sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Anticorpo derrota HIV e inspira vacina

Anticorpo derrota HIV e inspira vacina

Dois anticorpos isolados de paciente africano conseguem neutralizar várias cepas do vírus, devolvendo esperança de vacina

Moléculas se ligam a partes de proteína da superfície do vírus que não mudam; nova técnica acelera busca de mais anticorpos desse tipo

A busca até agora frustrada por uma vacina contra a Aids ganha alento com uma pesquisa divulgada ontem. Um grupo internacional isolou dois anticorpos - ambos de um mesmo doador, um homem africano - capazes de neutralizar um amplo espectro de variedades do HIV, vírus causador da doença.

Os anticorpos são moléculas produzidas pelo sistema de defesa do corpo que lutam contra bactérias, vírus e outros invasores. O HIV é mestre em driblar essas moléculas.

Os anticorpos descobertos pelos cientistas, batizados PG9 e PG16, são especiais porque atacam uma região do HIV que é comum à maioria das variedades do vírus. Foram testados contra 162 linhagens, e conseguiram neutralizar mais de 120. Uma quantidade alta e inédita.

Algumas poucas pessoas, como esse doador, produzem anticorpos que as protegem do HIV naturalmente. Se, no futuro, for possível produzir uma vacina que estimule a produção deles em todos, as pessoas poderão ser imunizadas contra a Aids. Nos casos do PG9 e do PG16, a eficiência não chega a 100% - é de cerca de 80%. Mas já seria um grande passo.

O HIV é um vírus altamente mutante. As proteínas que ele usa para se ligar às células humanas mudam com tanta facilidade que os anticorpos não consegue reconhecê-las e se ligar a elas. Essa é a principal barreira à produção de uma vacina hoje.

A abordagem utilizada pelos cientistas, então, é buscar exceções: pedaços dessas proteínas que se mantenham idênticos em todas cepas do vírus.

"Certamente vamos encontrar mais [anticorpos]. Isso deve acelerar o desenvolvimento de uma vacina", diz Wayne Koff, da Iavi (Iniciativa Internacional de Vacinas contra a Aids, na sigla em inglês).